O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira (29) que “não tem pressa” em aplicar a Lei da Reciprocidade contra os Estados Unidos, embora considere necessário dar andamento ao processo. A declaração ocorreu durante entrevista à Rádio Itatiaia, em Belo Horizonte, quando Lula voltou a defender a via da negociação em relação ao tarifaço de 50% imposto pelo governo norte-americano sobre produtos brasileiros.
A legislação, aprovada pelo Congresso e sancionada em abril, autoriza o Brasil a adotar medidas de resposta quando outros países impõem barreiras comerciais que afetam a competitividade das exportações nacionais. A Câmara de Comércio Exterior (Camex) já iniciou os trâmites e notificará oficialmente os Estados Unidos.
“Eu não tenho pressa de fazer qualquer coisa com a reciprocidade contra os Estados Unidos. Tomei a medida porque eu tenho que andar o processo”, disse Lula.
Segundo o presidente, seguir estritamente os ritos previstos na Organização Mundial do Comércio (OMC) poderia levar mais de um ano. Por isso, ele considera fundamental deixar claro que o Brasil está disposto a reagir, ao mesmo tempo em que mantém aberto o canal de negociação.
“Se você for tentar andar na forma que todas as leis exigem, o comportamento da Organização Mundial do Comércio [OMC], das regras, você vai demorar um ano. Então, nós temos que começar, nós já entramos com o processo na Organização Mundial do Comércio. Nós temos que dizer para os Estados Unidos que nós temos coisas para fazer contra os Estados Unidos. Mas eu não tenho pressa, porque eu quero negociar”, afirmou.
Tarifaço dos EUA
A sobretaxa faz parte da política do presidente Donald Trump, que determinou em abril novas barreiras alfandegárias de acordo com o déficit comercial dos EUA com outros países. Na ocasião, o Brasil recebeu inicialmente a menor taxa, de 10%.
No entanto, em agosto, foi acrescentada uma tarifa adicional de 40%, elevando a taxa total para 50% sobre 35,6% das exportações brasileiras ao mercado norte-americano. Trump justificou a medida como retaliação a decisões que, segundo ele, prejudicariam empresas de tecnologia dos Estados Unidos, além de mencionar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Lula reforçou que, apesar das dificuldades, o Brasil está disposto a negociar “24 horas por dia” caso haja sinalização do governo norte-americano. Ele ressaltou ainda que o vice-presidente Geraldo Alckmin, acompanhado dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira (Relações Exteriores), lidera os esforços diplomáticos.
“Até agora nós não conseguimos falar com ninguém […]. Então eles não estão dispostos a negociar. Se o Trump quiser negociar, o Lulinha paz e amor está de volta”, disse Lula, acrescentando que não pretende telefonar diretamente ao presidente dos Estados Unidos.
“Não tentei ligar. Eu não tenho nenhum problema de falar com quem quer que seja, ele tem que dar um sinal de que quer negociar. Porque as pessoas falam para ligar para o Trump, mas se o secretário de Tesouro não falou com Haddad, se o Alckmin não conseguiu falar com o cidadão do comércio, porque as pessoas acham que o telefonema meu para o Trump iria resolver?”, questionou.
Crime organizado
Na mesma entrevista, o presidente comentou as investigações sobre o crime organizado no setor de combustíveis, que resultaram na Operação Carbono Oculto. Ele classificou a ofensiva como “a operação mais importante da história” por atingir diretamente a estrutura de financiamento das facções.
“Por enquanto [as autoridades de investigação] só iam no andar de baixo. Agora, nós queremos saber quem é que, efetivamente, faz parte do crime organizado. Quem fizer vai aparecer”, declarou.
Lula também observou a complexidade atual das organizações criminosas:
“O crime organizado hoje é uma coisa muito sofisticada, porque ele está na política, no futebol, na Justiça, ele está em tudo quanto tem lugar. Está em tudo, é um braço internacional muito poderoso. Tem relações com o mundo inteiro, é uma verdadeira multinacional.”
A apuração revelou que fundos de investimento e fintechs eram usados para ocultar patrimônio de origem ilícita, com fortes indícios de ligação com facções do narcotráfico. A Justiça Federal determinou o bloqueio de bens e valores de até R$ 1,2 bilhão, valor equivalente às autuações fiscais já emitidas.
📌 Fonte: Agência Brasil
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